sexta-feira, 1 de abril de 2011

AS AVENTURAS DE UM LÁPIS PRETO

Sou um pobre toco de lápis, vou contar a vocês como eu vivi esses anos todos.
Eu era ainda bem jovem, nem sabia o que era vida, pensava que tudo fosse um mar de rosas, que eu sendo bom, todos seriam bons comigo também.
De preto numa fábrica me vestiram e logo depois fiz uma viagem e fui parar numa livraria, por sinal muito elegante. Fiquei exposto dias e dias no mesmo lugar. Notei que uma criança me olhava atentamente. Foi quando a vendedora da loja veio em minha direção e me levou até ela. Fiquei tão impressionado que nem notei que um papel estava grudado em mim, provavelmente uma embalagem de presente.
Fiz um passeio curto, mas eu não sabia onde eu estava indo. Quando vi estava junto daquela criança que eu vira na loja. Pensei: que bom eu estou em casa de gente conhecida.
Fui dormir dentro de uma caixa de madeira no meio de um monte de lápis coloridos.
No outro dia acompanhei a menina à escola, eu estava tão feliz! Até que um apontador começou a me machucar, pouco a pouco, senti uma tristeza enorme, comecei a chorar em silêncio. A menina nem notava que eu não conseguia parar de soluçar, para ela eu não passava de um simples lápis preto. Esta tristeza durou pouco, depois passeei o tempo todo em cima de um objeto branco cheio de riscos horizontais, a que todos chamavam de caderno, era tão legal eu ia e vinha.
O tempo foi passando e eu já não via mais beleza em passear sobre o caderno, o apontador também já não me assustava mais. Quando percebi, o tempo passou e eu, comecei a ficar velho e pequeno, eu já não era mais o mesmo.
Fui substituído por um almofadinha azul, grande coisa pensei. Eu já fiz muitas coisas na vida: respondi provas, resolvi problemas matemáticos, Pitágoras eu faço até de olhos fechados, conjuguei verbos, sei até conjugar o verbo impedir, escrevi até cartas de amor. Hoje sou um lápis velho, mas instruído... Não há de ser nada!
Neste asilo de velhos lápis em que me encontro, noto que todos foram como eu. Muitos lápis estão a minha volta, uns quebrados outros pequenos demais, mas mesmo assim eu percebo que na minha longa jornada fui feliz, não serei um velho não. Estou com uma viagem marcada a um estojo novo, ainda bem que alguém gosta de velhos tocos de lápis.
         
Publicado 05.01.1978   (revisado)                                                         

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