sexta-feira, 8 de abril de 2011

A VIOLÊNCIA NO RIO DE JANEIRO


É impossível ficar alheia e calada diante de tanta violência. Nossas vidas são invadidas por notícias apavorantes de todos os lados: violência urbana, como assaltos a prédios de luxo, seqüestros, morte em escola municipal; violência da natureza como terremotos e tsunamis, violência de um modo geral. Não houve tempo para se recuperar do terremoto do Japão e logo em seguida uma tragédia bem perto de nós.
Nem nossas crianças escapam de tanta violência, seja em casa, como no caso do assalto ao prédio em Porto Alegre, seja na escola do Rio de Janeiro. Violência que só víamos nos filmes e nos noticiários estrangeiros, agora invade as manchetes locais. Lugares que nós adultos pensávamos invioláveis como uma escola municipal num bairro comum de uma grande cidade.
Leio jornais, vejo na televisão, procuro respostas na internet, mas todos estão atônitos, buscando explicações a um comportamento de um jovem desconhecido “Wellington”, de 24 anos, que simplesmente resolveu premeditadamente sair atirando e matando.
Hoje pela manhã já escutei de tudo, alguns especialistas tentam analisar, alguns se arriscam ao afirmar que o “matador” tinha comportamento esquizofrênico, outros que ele era um sociopata e outros o descrevem como um psicopata. Mas afinal, o que quer dizer cada um desses termos? Busquei algumas definições para cada um desses transtornos de personalidade.
Esquizofrênico: é um transtorno psíquico, alteração do pensamento, alucinações, delírios, alterações no contato com a realidade. Atinge 1% da população mundial, manifestando-se habitualmente entre 15 e 25 anos.
Sociopata: transtorno de personalidade, caracterizado pelo comportamento impulsivo do indivíduo afetado, desprezo por normas sociais, indiferença aos direitos e sentimentos dos outros. Não raramente tem um comportamento agressivo e diferente, que varia de caloroso para frio ou cruel dependendo de como quiser manipular, possuem grande talento em escrever e juntar rimas. A maioria dos sociopatas (72%) é do sexo masculino, muitos tem uma família desestruturada ou tiveram uma infância difícil e quando atingem a fase adulta, utilizam comportamento violento como meio de se “vingar” do passado, inconscientemente.
Psicopata: essas pessoas se caracterizam por um distúrbio mental grave caracterizado por um desvio de caráter, ausência de sentimentos genuínos, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, egocentrismo, falta de remorso e culpa para atos cruéis. Tem plena consciência de que seus atos não são corretos, tanto que na carta que o “atirador” deixou ele pede perdão pelo que fez e ainda tem o descaramento de pedir que rezem em seu túmulo.
Os psicopatas andam pela sociedade como predadores sociais, rachando famílias, se aproveitando de pessoas vulneráveis. Nem todo psicopata é assassino, alguns estão em escritórios, muitas vezes ganhando uma promoção atrás da outra enquanto puxam o tapete dos colegas, caracterizados como “cobras de terno”.
Sei que é contra a minha religião desejar a morte de alguém, mas ainda bem que o sargento da policia militar estava no lugar certo, na hora certa para atingir esse maluco e evitar que mais mortes ocorressem dentro daquela escola.
Não tem como imaginar a dor das famílias, um fato desta magnitude entristece a todos nós, nos causa uma sensação de vazio de impotência, de insegurança, de descrédito, uma inquietação, um sentimento inexplicável de muito medo!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

MORTE NO CARNAVAL

Está fazendo uma bela tarde de verão e o carnaval à noite promete ser inesquecível.
Vai anoitecendo rapidamente e o som das cuícas começa a soar pela avenida. O som hilariante dos instrumentos aumenta à medida que os blocos se aproximam, a alegria é contagiante. Os sambistas passam tocando e se divertindo, rindo até o amanhecer.
Pela manhã, os batuques continuam soando na avenida. O som vibrante não permite que alguns moradores durmam. Outros acordam e vão até a frente de suas casas conversar. Comentam que a noite estava muito quente e que talvez chovesse no final do dia. Isso prejudicaria tremendamente o faturamento do carnaval.
O movimento aumenta, muitas pessoas já estão de pé.  O som da cuíca está um pouco mais suave, porque a escola de samba se afasta do palanque principal.
Em meio aquele alvoroço de instrumentos e comentários, ouve-se um grito seco:
- Socorro! O Vilásio está morto!
Aquele grito misturado com o surdo da escola de samba, junto com os comentários, deixa a todos perplexos, gelados, arrepiados sem saber o que fazer. Os vizinhos espantados dirigem-se ao local.
Começou o velório. Choros, velas, luto, os familiares atônitos recebendo os pêsames. É tudo tão lúgubre e lá na rua sem tomar conhecimento de quem é Vilásio, o carnaval continua.
Sua morte não foi um motivo para terminar com o carnaval, afinal ele é apenas mais um habitante da pequena cidade.
Quando chegou a hora do enterro começou a cair uma chuva fina. O caixão era levado por seis pessoas. O sino da capelinha soava tristemente dando algumas badaladas. O choro e os comentários: como era bom o Vilásio, um bom pai de família, trabalhador, morreu cedo, 40 anos, pobre viúva Sarita, com quatro filhos pequenos, sem dinheiro, o que vai fazer?
O som do sino era confundido com a batida do surdo, do atabaque, do pandeiro. A escola iniciava novamente seu desfile na avenida.
A chuva fina continuou caindo. Chegaram ao cemitério, que ficava a poucas quadras da avenida do carnaval. O cheiro de vela, de flores, enjoava a todos.
Estava terminado o enterro. Restou só a dor da perda de um ente querido. Foram todos para a vila novamente.
A noite foi chegando e com ela o barulho ensurdecedor dos instrumentos. A vila estava triste, deprimida e sem brilho.
Mais tarde, as pessoas desta mesma vila, saíram e foram brincar no carnaval. A dor havia passado? Vilásio não representava mais nada? Ou simplesmente... foram brincar... para esquecer “as peças” que a vida apronta?

Publicado 22.11.1978

terça-feira, 5 de abril de 2011

AS MÃES DE CHICO XAVIER

     Estou chegando agora do cinema fui ver o filme “As mães de Chico Xavier”. Quem está acostumado a ler livros espíritas já deduz o que vai encontrar na tela, mas é muito mais. A história retrata três mães em diferentes momentos de suas vidas. Elas buscam consolo com o médium Chico para o sofrimento pelo qual estão passando e no final uma certeza única de que a morte não é o fim.
     Um filme de produção muito simples, mas com bom conteúdo. É interessante porque sempre as pessoas são céticas até se depararem com esse monstro desconhecido. Em muitos momentos do filme é impossível não se emocionar, tentar segurar aquela lágrima que teima em rolar, aquele nó na garganta e um imenso aperto no coração.
     Enquanto o filme vai passando vai rolando um filme na nossa cabeça e paralelamente as cenas vão se confundindo com o que pode ser verdade e o que pode ser ficção. Quando deixo o cinema uma sensação de alívio indescritível, penso: foi um filme.
     Por favor, não tem melodrama aqui de jeito algum é só uma pausa para pensar e agradecer a Deus a família que tenho e que todos estão aqui.
     Recomendo esse filme a todos crentes ou não!

EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA

Antigamente existia um monstro horrível chamado inflação. Para você ter uma idéia veja alguns dados. A inflação acumulada de 1980 foi de 110,24%, em 1983, 211,02%, em 1986, 235,11% e o acumulado no ano de 1988 foi de 1.037,56%. Isso não é ficção e nem seriado de TV, tudo isso ocorreu no Brasil! Houve várias trocas de moeda até chegar em 1994 o Real (moeda que vigora até hoje). De 1970 a 1986 o padrão monetário do Brasil era o “Cruzeiro”. Uma nota de Cr$ 1.000,00 (mil cruzeiros) hoje provavelmente valeria R$ 0,30 (trinta centavos). Nesta nota havia estampada a figura do Barão do Rio Branco, circulou entre os anos de 1970 a 1986.
Os mais antigos ainda lembram-se desta época de INFLAÇÃO e provavelmente querem apagar da memória um período muito difícil da nossa história. Os mais jovens nem imaginam que período terrível foi aquele onde o valor das mercadorias caia e subia diariamente. Imaginem um litro de óleo de soja pela manhã tinha um valor e a tarde muitas vezes era 50% mais caro. Quando um produto barato era encontrado fazíamos estoque, consequentemente ele desaparecia das prateleiras do supermercado.
Em 1980, eu cursava Comunicação na Feevale, e o professor pediu que fizesse uma redação de tema livre. Pensei, pensei e tive a idéia de escrever uma sátira sobre a desvalorização da moeda brasileira. Este trabalho foi muito elogiado e obteve a nota máxima. Deliciem-se com o texto.

        EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA


        Fugido há vários dias dos cofres da cidade, a polícia ainda não conseguiu capturá-lo, devido a sua maneira astuta de escapulir, cada vez que estão na pista consegue desvencilhar-se facilmente das engenhosas armadilhas arquitetadas pelos tiras.
Segundo as últimas declarações prestadas pelo Banco Central, o fugitivo está em completo disfarce, seguindo as seguintes características; vasta cabeleira encaracolada, negra, remoçado uns 20 anos, vestindo roupas esfarrapadas, que nada se parece com as de um nobre.
        Mais de dois bilhões de pessoas estão a sua procura. Buscas intensivas estão sendo feitas desde a semana que passou. A imprensa escrita e falada foi avisada. Está sendo realmente um dos maiores acontecimentos do ano em termos policiais. O comentário gira em torno disso. Agora? Como vamos fazer?
        Nas rodinhas de samba, nos papos com amigos, no coletivo, na sala de aula, enfim, todos preocupados com a situação: como viveremos se não o encontramos?
        E atenção!
Uma notícia chegada há poucos instantes, comunica que o meliante foi capturado quase sem vida. Segundo curiosos que lá se encontravam ele está irreconhecível.
A polícia evacuou o local, sendo o fugitivo imediatamente removido para a emergência do pronto socorro. Após várias operações, foi levado para UTI, vindo a falecer devido à queda brusca da desvalorização.
A manchete é única: “Morreu o Barão, sufocado pela inflação”.



* Publicado em 25.04.1981, Jornal O Progresso

sexta-feira, 1 de abril de 2011

AS AVENTURAS DE UM LÁPIS PRETO

Sou um pobre toco de lápis, vou contar a vocês como eu vivi esses anos todos.
Eu era ainda bem jovem, nem sabia o que era vida, pensava que tudo fosse um mar de rosas, que eu sendo bom, todos seriam bons comigo também.
De preto numa fábrica me vestiram e logo depois fiz uma viagem e fui parar numa livraria, por sinal muito elegante. Fiquei exposto dias e dias no mesmo lugar. Notei que uma criança me olhava atentamente. Foi quando a vendedora da loja veio em minha direção e me levou até ela. Fiquei tão impressionado que nem notei que um papel estava grudado em mim, provavelmente uma embalagem de presente.
Fiz um passeio curto, mas eu não sabia onde eu estava indo. Quando vi estava junto daquela criança que eu vira na loja. Pensei: que bom eu estou em casa de gente conhecida.
Fui dormir dentro de uma caixa de madeira no meio de um monte de lápis coloridos.
No outro dia acompanhei a menina à escola, eu estava tão feliz! Até que um apontador começou a me machucar, pouco a pouco, senti uma tristeza enorme, comecei a chorar em silêncio. A menina nem notava que eu não conseguia parar de soluçar, para ela eu não passava de um simples lápis preto. Esta tristeza durou pouco, depois passeei o tempo todo em cima de um objeto branco cheio de riscos horizontais, a que todos chamavam de caderno, era tão legal eu ia e vinha.
O tempo foi passando e eu já não via mais beleza em passear sobre o caderno, o apontador também já não me assustava mais. Quando percebi, o tempo passou e eu, comecei a ficar velho e pequeno, eu já não era mais o mesmo.
Fui substituído por um almofadinha azul, grande coisa pensei. Eu já fiz muitas coisas na vida: respondi provas, resolvi problemas matemáticos, Pitágoras eu faço até de olhos fechados, conjuguei verbos, sei até conjugar o verbo impedir, escrevi até cartas de amor. Hoje sou um lápis velho, mas instruído... Não há de ser nada!
Neste asilo de velhos lápis em que me encontro, noto que todos foram como eu. Muitos lápis estão a minha volta, uns quebrados outros pequenos demais, mas mesmo assim eu percebo que na minha longa jornada fui feliz, não serei um velho não. Estou com uma viagem marcada a um estojo novo, ainda bem que alguém gosta de velhos tocos de lápis.
         
Publicado 05.01.1978   (revisado)