quinta-feira, 7 de abril de 2011

MORTE NO CARNAVAL

Está fazendo uma bela tarde de verão e o carnaval à noite promete ser inesquecível.
Vai anoitecendo rapidamente e o som das cuícas começa a soar pela avenida. O som hilariante dos instrumentos aumenta à medida que os blocos se aproximam, a alegria é contagiante. Os sambistas passam tocando e se divertindo, rindo até o amanhecer.
Pela manhã, os batuques continuam soando na avenida. O som vibrante não permite que alguns moradores durmam. Outros acordam e vão até a frente de suas casas conversar. Comentam que a noite estava muito quente e que talvez chovesse no final do dia. Isso prejudicaria tremendamente o faturamento do carnaval.
O movimento aumenta, muitas pessoas já estão de pé.  O som da cuíca está um pouco mais suave, porque a escola de samba se afasta do palanque principal.
Em meio aquele alvoroço de instrumentos e comentários, ouve-se um grito seco:
- Socorro! O Vilásio está morto!
Aquele grito misturado com o surdo da escola de samba, junto com os comentários, deixa a todos perplexos, gelados, arrepiados sem saber o que fazer. Os vizinhos espantados dirigem-se ao local.
Começou o velório. Choros, velas, luto, os familiares atônitos recebendo os pêsames. É tudo tão lúgubre e lá na rua sem tomar conhecimento de quem é Vilásio, o carnaval continua.
Sua morte não foi um motivo para terminar com o carnaval, afinal ele é apenas mais um habitante da pequena cidade.
Quando chegou a hora do enterro começou a cair uma chuva fina. O caixão era levado por seis pessoas. O sino da capelinha soava tristemente dando algumas badaladas. O choro e os comentários: como era bom o Vilásio, um bom pai de família, trabalhador, morreu cedo, 40 anos, pobre viúva Sarita, com quatro filhos pequenos, sem dinheiro, o que vai fazer?
O som do sino era confundido com a batida do surdo, do atabaque, do pandeiro. A escola iniciava novamente seu desfile na avenida.
A chuva fina continuou caindo. Chegaram ao cemitério, que ficava a poucas quadras da avenida do carnaval. O cheiro de vela, de flores, enjoava a todos.
Estava terminado o enterro. Restou só a dor da perda de um ente querido. Foram todos para a vila novamente.
A noite foi chegando e com ela o barulho ensurdecedor dos instrumentos. A vila estava triste, deprimida e sem brilho.
Mais tarde, as pessoas desta mesma vila, saíram e foram brincar no carnaval. A dor havia passado? Vilásio não representava mais nada? Ou simplesmente... foram brincar... para esquecer “as peças” que a vida apronta?

Publicado 22.11.1978

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