terça-feira, 5 de abril de 2011

EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA

Antigamente existia um monstro horrível chamado inflação. Para você ter uma idéia veja alguns dados. A inflação acumulada de 1980 foi de 110,24%, em 1983, 211,02%, em 1986, 235,11% e o acumulado no ano de 1988 foi de 1.037,56%. Isso não é ficção e nem seriado de TV, tudo isso ocorreu no Brasil! Houve várias trocas de moeda até chegar em 1994 o Real (moeda que vigora até hoje). De 1970 a 1986 o padrão monetário do Brasil era o “Cruzeiro”. Uma nota de Cr$ 1.000,00 (mil cruzeiros) hoje provavelmente valeria R$ 0,30 (trinta centavos). Nesta nota havia estampada a figura do Barão do Rio Branco, circulou entre os anos de 1970 a 1986.
Os mais antigos ainda lembram-se desta época de INFLAÇÃO e provavelmente querem apagar da memória um período muito difícil da nossa história. Os mais jovens nem imaginam que período terrível foi aquele onde o valor das mercadorias caia e subia diariamente. Imaginem um litro de óleo de soja pela manhã tinha um valor e a tarde muitas vezes era 50% mais caro. Quando um produto barato era encontrado fazíamos estoque, consequentemente ele desaparecia das prateleiras do supermercado.
Em 1980, eu cursava Comunicação na Feevale, e o professor pediu que fizesse uma redação de tema livre. Pensei, pensei e tive a idéia de escrever uma sátira sobre a desvalorização da moeda brasileira. Este trabalho foi muito elogiado e obteve a nota máxima. Deliciem-se com o texto.

        EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA


        Fugido há vários dias dos cofres da cidade, a polícia ainda não conseguiu capturá-lo, devido a sua maneira astuta de escapulir, cada vez que estão na pista consegue desvencilhar-se facilmente das engenhosas armadilhas arquitetadas pelos tiras.
Segundo as últimas declarações prestadas pelo Banco Central, o fugitivo está em completo disfarce, seguindo as seguintes características; vasta cabeleira encaracolada, negra, remoçado uns 20 anos, vestindo roupas esfarrapadas, que nada se parece com as de um nobre.
        Mais de dois bilhões de pessoas estão a sua procura. Buscas intensivas estão sendo feitas desde a semana que passou. A imprensa escrita e falada foi avisada. Está sendo realmente um dos maiores acontecimentos do ano em termos policiais. O comentário gira em torno disso. Agora? Como vamos fazer?
        Nas rodinhas de samba, nos papos com amigos, no coletivo, na sala de aula, enfim, todos preocupados com a situação: como viveremos se não o encontramos?
        E atenção!
Uma notícia chegada há poucos instantes, comunica que o meliante foi capturado quase sem vida. Segundo curiosos que lá se encontravam ele está irreconhecível.
A polícia evacuou o local, sendo o fugitivo imediatamente removido para a emergência do pronto socorro. Após várias operações, foi levado para UTI, vindo a falecer devido à queda brusca da desvalorização.
A manchete é única: “Morreu o Barão, sufocado pela inflação”.



* Publicado em 25.04.1981, Jornal O Progresso

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