terça-feira, 8 de novembro de 2011

VOU FAZER 50 ANOS


Num tempo não muito distante as geladeiras eram importadas chamadas “Frigidaire” e os ventiladores um perigo para as crianças, com suas pás de metal desprotegidas. Comia-se manteiga sem culpa no café da manhã, almoçava-se em casa, jantava-se lautamente. Fotógrafos ganhavam a vida fazendo três x quatro na praça ou surpreendendo casais e famílias que passavam nas ruas: os instantâneos ficavam prontos rapidinhos, em menos de uma semana. As contas eram pagas em dinheiro vivo. O correio trazia cartas e telegramas (hoje nos trazem dores de cabeça... as contas). As cartas aéreas eram escritas em papel fino, para não ficarem pesadas e, por conseguinte caras. Os comunicados fúnebres chegavam em envelopes com tarjas pretas, que lhes davam gravidade e os destacavam do resto da correspondência. Nas cidades pequenas o sino da igreja tocado pausadamente anunciava o acontecido. A televisão era um aparelho de luxo, lembro que a TV colorida só apareceu na minha casa em 1974. Para o grande público as notícias vinham pelo rádio e pelos jornais, que traziam informações de todo o tipo, das grandes manchetes ao resultado de concursos públicos. Mães zelosas guardavam revistas para os trabalhos escolares dos filhos e, em toda residência com um mínimo de recursos, coleções de livros de referência para jovens tinham destaque nas estantes, os mais afortunados tinha a famosa coleção “barsa”. Havia ótimo mercado para enciclopédias, vendidas de porta em porta, em suaves prestações mensais. E também dessa forma compravam-se cosméticos por livrinhos da Avon ou Cristhian Gray. A palavra “tecnologia”, apesar de inventada em 1829, não fazia parte do vocabulário geral.
         Em menos de 50 anos, a tecnologia alterou radicalmente o modo como vivemos. Nenhum aspecto do cotidiano ficou intocado, nenhuma pessoa escapou a sua influência. Se este impacto é para melhor ou para pior é discussão apenas filosófica. Um caminho sem volta!
Pergunto-me constantemente, “como é que conseguíamos viver antes da internet?!” Como encontrávamos telefones e endereços? Como sabíamos quais filmes estavam em cartaz? Como descobríamos os horários dos vôos, a temperatura em Natal, o valor da moeda estrangeira? A quem recorríamos para saber como se tiram manchas? Como conseguíamos esperar meses por uma carta? Como dependíamos apenas dos discos que estavam nas lojas? Como fazíamos quando queríamos a letra de uma música ou o trecho de um filme? Não vivemos mais sem you tube!! A moda? Ficávamos com o mesmo sobretudo por anos! Como elaborávamos o trajeto de casa para uma rua que não conhecíamos? A resposta para estas e tantas outras se torna cada vez mais remota.
         E o celular? Era preciso ficar de plantão no escritório esperando uma chamada, ou então ditar todos os passos para a secretária, para assim agendar compromissos. Hoje localizamos qualquer pessoa em qualquer lugar num clicar de teclas.
E a fotografia? Era necessário comprar um filme de 12, 24, 36 ou 42 poses e rezar para tudo dar certo, não perder o foco ou tremer na hora. Hoje é tudo instantâneo  e queremos ver o resultado assim que a foto é tirada.
O que conta é que de 50 anos para cá passamos a ser todos muito bem informados e escravos dessa tal tecnologia. Antigamente  a medida da curiosidade de uma criança restringia-se ao que sabiam os adultos, à sua volta, aos eventuais livros de casa ou de uma possível biblioteca nas proximidades. Hoje as crianças ensinam muito mais do que aprendem conosco. Quem nascia longe dos grandes centros estava preso as limitações locais. Hoje, com um pouco de curiosidade e uma conexão à Internet percebe-se que o mundo é uma pequena aldeia!

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